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Retábulo (1800-1805?)

Datado dos princípios do XIX (1800 a 1805), é um dos poucos exemplares de arquitetura simulada ou trompe l'œil existentes no Algarve. Apresenta a particularidade de não ter sido executado em talha dourada recorrendo-se à pintura sobre madeira para criar uma perspetiva ilusória que reconstrói um imaginário retábulo de pedraria com colunas em mármore, pilastras, frontão curvilíneo e outros elementos decorativos.

Não se conhece até à data a autoria nem o ano de construção, presumindo-se que tenha sido concluído no ano de 1800, data da consagração da Igreja no pós-terramoto e, portanto, seja este a influenciar o que está na capela-mor da Igreja de São José do Hospital (1805), da mesma cidade e cujo autor é Joaquim José Rasquinho (1736-1822). Pode eventualmente também ser a sua autoria do pintor Tavirense José Ferreira da Rocha (1792-1813) que se inspira na tratadística de Andrea Pozzo para as suas obras e visto estarmos perante um retábulo que ainda denota algumas influências do período artístico anterior, como é o caso do camarim e alguma ornamentação.

Exemplar que ocupa a totalidade da parede testeira da capela-mor, constituindo-se por sotobanco, banco e insere-se numa tipologia muito frequente: a de corpo único e três tramos. As colunas são de fuste liso suportadas por quartelões e com capiteis compósitos. O ático é composto por frontão curvilíneo onde se inserem pilastras rematadas por urnas e pináculos espiralados. Ao centro encerra toda a composição uma cartela com a representação do Espírito Santo.

Destaca-se o corpo central que, interrompendo o entablamento, possui larga tribuna onde se insere uma maquineta neoclássica com a imagem de Santa Maria do Castelo (segunda metade do século XVIII). Nas ilhargas, um nicho com as imagens de S. Marcos (esquerda) e São Barnabé (direita), ambas datadas do séc. XVIII e provenientes dos respetivos altares.

Outrora possuía um trono piramidal em degraus que terá sido executado em meados do século XVIII. Até ao momento desconhece-se se essa estrutura em madeira policromada terá chegado a ser usada para o culto, embora apresente vestígios de utilização. Pressupõe-se que a encomenda da imagem de Nossa Senhora (séc. XVIII), terá feito alterar a ideia original do retábulo eucarístico.

Segundo o historiador Daniel Santana, "Trata-se de uma escultura de excelente execução técnica, atribuível aos círculos da oficina do famoso escultor Machado de Castro, o que a colocava num plano de excelência ao nível da encomenda e do lugar que devia ocupar o templo. Tal poderá ter justificado a substituição da tipologia do retábulo, convertendo-o em retábulo devocional com maior enfoque na imagem da padroeira. O espaço da tribuna foi então encerrado por um cenográfico painel de madeira, com cortinas fingidas que enquadram solenemente a maquineta que alberga a imagem de Nossa Senhora".

É também muito provável que a maquineta que encerra toda a cenografia criada na parte central do retábulo seja de outro mestre entalhador. Presume-se, pelas semelhanças artísticas e policromas, que tenha sido José Romeira o responsável por este trabalho, assim como por algumas tábuas pintadas presentes junto à mesa de altar. Tudo isto remete-nos para as mesmas caraterísticas do retábulo batismal, atribuído precisamente a este homem.

É curioso o facto de se terem descoberto muito recentemente pinturas morais por de trás das tábuas que cobriam o ático e que remontam possivelmente ao período logo após o terramoto, no sentido de se ter um altar ao culto de forma rápida e barata. É possível que toda a composição esteja repleta dessa pintura.

No mesmo local (altar-mor) e segundo as visitações das igrejas algarvias, apresentava-se um retábulo renascentista de seis painéis, decorados com molduras e encoramentos em dourado.

Túmulo dos 7 Mártires

Após a morte traiçoeira dos cavaleiros no sítio das Antas no ano de 1242, segundo a crónica de D. Peres Correia, redigida cerca de um século após os fatídicos acontecimentos (1340) e a crónica do Reino do Algarve escrita em 1577 por Frei João de São José, foi D. Paio Peres Correia, o mestre da ordem de Santiago, que tornado ao mesmo local juntamente com muita gente, trouxe para a antiga mesquita maior (Igreja de Santa Maria do Castelo) os cavaleiros mortos em combate e aí mandou edificar monumento comemorativo onde se colocou sete escudos com as vieiras de Santiago e enterrados os corpos dos seis cavaleiros e um mercador, venerados depois como mártires.

O que hoje se vê embutido na parede do lado da epístola na capela-mor é presumivelmente uma lápide moderna e que contém a seguinte inscrição:

AQUI JAZEM OS OSSOS DOS SETE CAVALEIROS QUE FALECERAM NA TOMADA DESTA CIDADE AOS MOUROS EM 11 DE JUNHO DE 1242.

No entanto, segundo os mais recentes trabalhos de restauro efetuados in loco, chegou-se à conclusão de que a lápide poderá eventualmente ser a original, isto é, proveniente do séc. XIII, por apresentar traços e vestígios de douramento muitos comuns à época. A sua mudança para a capela-mor deverá ter sido efetuada após o terramoto de 1755, sendo que a inscrição lapidar anteriormente mencionada é com toda a certeza algo contemporâneo.

Do local do primitivo túmulo pouco se conhece. Segundo as visitações da Ordem de Santiago de 1518 e 1554, apenas se faz referência ao "retábulo dos Mártires" que possui sepultura dos Mártires dos 7 cavaleiros e que são considerados santos, estando essa estrutura colocada no lado da epístola da igreja, onde hoje se ergue o retábulo em honra de São Bartolomeu.

Túmulo de D. Paio Peres Correia

Figura chave na reconquista cristã do Algarve e de parte do Sul Península Ibérica, após a sua morte a 10 de fevereiro de 1275, em Espanha, foi por testamento que D. Paio Peres Correia estabeleceu a trasladação dos seus restos mortais para a Igreja de Santa Maria do Castelo, mais precisamente para o espaço entre o altar-mor e a parede da igreja.

A história por detrás da presença do corpo do Mestre da Ordem de Santiago tem adquirido diferentes rumos e interpretações e cuja verdade se torna difícil de apurar.

Em 1511, as suas ossadas terão sido levadas para o mosteiro de Santa Maria de Tentúdia (Província de Badajoz, Espanha), onde existe outro túmulo venerado a D. Paio Peres Correia. Tendo em conta a vontade testamentária expressa, é possível que tivesse sido primeiramente sepultado em Tendúia e tardiamente tivesse sido efetuada transladação para Tavira. Em 1724 existia um compartimento na parede do lado do evangelho da capela-mor, o qual mandou abrir o juiz de fora João Leal da Gama, e dentro desse reduzido espaço foi encontrado um pequeno sepulcro com ossadas que se considerava pertencerem ao Mestre da Ordem. Em 1751 procedeu-se à mudança para a atual sepultura, que não é, portanto, primitiva:

AQUI JAZEM OS OSSOS DE D. PAIO PERES CORREIA GRÃO MESTRE DA ORDEM DE SANTIAGO QUE TOMOU ESTA CIDADE AOS MOUROS. FALECEU EM 10 DE FEVEREIRO DE 1275. METERAM-SE AQUI NO ANNO DE 1751.